17.12.14

gosto do amanhecer, gosto da aurora que dormiu cem anos e um dia, gosto da fotografia de Dali a espreitar na janela do metáfora, gosto do brilho fulvo das folhas outonais, gosto de dobrar esquinas e sentir o aroma de castanhas assadas, gosto do sumo de gengibre e limão, gosto de canecas com motivos de natal, gosto da frase o boomerang e o seu efeito , gosto das crónicas alfacinhas e das descrições dos panos e tapeçarias que revestiam o interior do antigo Paço Real...

22.5.14

gosto do silêncio da chuva, gosto do silêncio da chuva e de o preencher com a voz de Matthew, gosto do silêncio da chuva e de o preencher com a voz de Matthew, de ouvir a melancolia no poema there’s nowhere left to hide, gosto do silêncio da chuva e de o preencher com a voz de Matthew, de ouvir a melancolia no poema there’s nowhere left to hide, in no one to confide, gosto do silêncio da chuva e de o preencher com a voz de Matthew, de ouvir a melancolia no poema there’s nowhere left to hide, in no one to confide, mas também gosto do murmúrio da chuva e da voz de Matthew na doçura do poema don’t fool yourself and don’t embrace the past, this life could be the last…

5.5.14

gosto de abrir os livros pelo meio e lê-los de trás para a frente, gosto da luz das estrelas, gosto da frase quando o coração da gente tem uma estrela cadente morre para nascer depois, gosto das espigas de Maio e de pendurá-las bem alto na cozinha envoltas em fita de seda verde, gosto que a esperança se renove em cada início de dia, gosto da afirmação it's ok not to be ok, gosto de levantar as fotografias caídas pela aragem e de recolocá-las nas prateleiras da estante e de pensar que é a primeira vez que as encosto aos livros, gosto de surpresas e de nunca saber o final dos livros e dos filmes...

15.4.14

gosto de amêndoas e folares da páscoa, gosto dos feriados que se aproximam, gosto de Abril e de cravos, gosto da frase de Chico: já murcharam tua festa pá, mas certamente esqueceram uma semente nalgum canto de jardim, gosto de roubar pés de gerânios em jardins, plantá-los e vê-los crescer, gosto de transformar os caixotinhos de morangos em prateleiras e dar-lhes diversas utilidades, gosto de ferramentas mesmo que não saiba para que servem, gosto do calor da casa quando tudo entristece lá fora, gosto de trabalhar ao lado da janela cheia de vasos de violetas, gosto dos azulejos turquesa da fachada do prédio em reconstrução, gosto de mousse de chocolate com rodelas de laranja...

4.4.14

gosto de revisitar o dia aconchegada na noite e nas almofadas antes de apagar a luz, gosto de iniciar o sono, acordar com a luz acesa e imaginar que a noite vai recomeçar, gosto de descer a avenida, gosto dos passos da fly, gosto de subir a rua estreita e visitar a pequena Beatriz que acabou de nascer, gosto de atravessar as veredas do parque e sentir o dia a despedir-se...

25.3.14

gosto da frase inelegantly, and without my consent, time passed, gosto das mimosas, das acácias e das magnólias a recortarem as ruas entre as casas, gosto de pensar nas palavras de Daniel e imaginar a magnólia a projectar sombras na minha mão, gosto de iniciar novos caminhos e novos projectos mas gosto de regressar às pequenas rotinas...

11.3.14

gosto dos desenhos a tinta-da-china do João Lemos, gosto da tradução indian ink, gosto da lua mesmo quando é mentirosa, gosto da tarde anoitecida e cálida, gosto das folhas que despontam nos ramos mas gosto de ter saudades do inverno, gosto quando a pequena Amanda me descobre entre a multidão no metro e me acena em caracteres orientais, gosto de ficarmos a rir e a falar em línguas diferentes, gosto de atravessar a praça e olhar o leão de guarda à avenida, gosto do arvoredo do parque sobre a paragem do autocarro, gosto do jardim abandonado onde crescem ervas, plantas e flores silvestres que não nos adormecem nem eternizam com o seu perfume...