3.11.08

diários #5




Parte-se-me o coração. Parte-se-me o coração ao meio, é como dizem. Devagar, há muita gente, agora vira à esquerda, vamos descer as escadas. Passo largo, corrente apertada. O cão obedece sempre, prisão de quem guia, angústia de quem apenas sente as cores. Horizonte imaginado: o pinhal, a praia, os passos livres. São os olhos que esvaziam o coração, tiram-lhe vida. Ele não se parte, diminui. Porque sangra. Como agora. Como sempre que releio os poemas, aqueles, feitos de palavras-facas no estranho hábito de retalharem o pequeno objecto. Afinal, há que dar-lhe alguma utilidade, recortar-lhe estrelas vermelhas, (há também que contrariar os dourados) muito, muito rendilhadas, e iluminar a árvore, e iluminar os poemas pendurados nos ramos. A faca não corta o fogo, e as palavras uniram-se, incandescentes. Não são estes poemas que releio, porém. São aqueles.

2 comentários:

clarinda disse...

Vim de dar a ler Cesário e o Sentimento de um ocidental. Curiosa a relação que estabeleço entre este texto e o poema do anoitecer, tendo por base o sentido da visão.E,parece-me encontrar aqui também 'um desejo absurdo de sofrer'.

Beijinhos, moriana

moriana disse...

Lisboa veste-se de frio ao sol.
Lisboa é bela, como qualquer cidade que se escolha para viver.
Lisboa é a minha cidade do coração.
Lisboa é-me "a" mais bela :)

bj.