31.3.09

diários #17

1 de Abril


Uma mentira pura, é difícil encontrar uma mentira pura.
Os degraus a enrolar e a voz a explodir, selvagem, forte, a voz a fazer eco nos túneis, quero subir ao céu, som a elevar-se cristalino, nos subterrâneos. Refrão preso no assobiar dos lábios, harmonia a entrar na pele, a criar ciscos nos olhos, cântigo negro em catedral de ruídos metálicos. Portas a abrir, passos a percorrerem carruagens como contas a rolarem nos dedos, presas ao fio, e o refrão preso no assobiar dos lábios, a fragilizar a alma. A voz a sair na estação seguinte, a desdobrar-se em espiral, a perder-se no talvez outro dia. Talvez é uma mentira gasta, do dia-a-dia, talvez é imaginar muitas verdades ao contrário. E os dedos a dizerem que escrevem ao correr da pena, e o sangue em pequenos coágulos, a empurrar as palavras, a muito custo. O abraço é apenas um abraço, e o imaginar a dizer baixinho: o abraço da nossa vida. Talvez esta seja uma mentira pura.






Imagem de Sherry_Rose

2 comentários:

clarinda disse...

Olá,

Uma mentira pura é uma verdade.

Beijinhos, bom fim-de-semana.

Jaime A. disse...

A mentira é, de si, tão pura que a depuraste e e deixaste toda exposta. Mas "talvez é uma mentira gasta", seca na sua virtude aparente de velha roliça e avental doce, caseiro...
Bjs