11.5.09

diários #19

Ekat a dizer, mostra-me em que risca vais no casaco irlandês, e as lãs a falarem apenas a linguagem universal do afecto em desenhos turquesa, laranja e branco. Não vai ser pandeiro na mão das bruxas, nem pensem! - a voz de Sara, mão estendida sobre a barriga onde cresce a esperança que irá encher o casaco irlandês e o cantinho do 38 ½ para onde os olhos já espreitam, de soslaio. As mãos de Rui a marcarem o compasso no tampo da mesa, a rirem-se da zanga de Sara, a zanga a aumentar, estás a rir-te de quê? a tua filha, Inês ou Francisca, não vai andar de colo em colo, a criar maus hábitos. Rui a tilintar a música, o riso e os nomes, Inês é nome de muitas mulheres, Francisca é nome antigo e tu ainda não sabes o sexo. Sara a soletrar os nomes, a descobrir que Inês tem quatro letras como amor, amor antigo como a lenda, antigo como Rui diz que Francisca é. Os dedos de Rui a suavizarem as batidas no tampo, os olhos a procurarem o espaço que o 38 ½ já reserva, Maria, gosto de Maria, Maria é nome de todos os tempos. Sara a mergulhar no casulo que a mão protege, Sara a murmurar, cansada, Maria é o nome da nossa gata.