29.10.08

diários #4



sixteen almost seventeen


Os vidros gritam o verde dos ramos e os olhos desviam-se do silêncio da sala. Lá fora, gestos desenham-se a technicolor. Há a relva e o lago e as folhas espalhadas. E eles. Jogam à apanhada puxam-se a roupa. Inclino a cabeça, espreito-os por entre os galhos do salgueiro. Rolam no chão agora. Estreitam-se, já não os distingo, formam um junco. O vento não o quebra, desiste. Sinto-lhes a vida como se ela fosse acabar naquele momento. Sacodem as ervas e as folhas, apanham os livros, partilham o mp3. Caminham de braços e mãos apertados. Sigo-os até se tornarem uma mancha esbranquiçada. O prisma, a reunião das cores. Os olhos regressam ao silêncio da sala, ao livro a preto e branco.

6 comentários:

Jaime A. disse...

Nessas árvores, há memórias de avós.
Lembram-nos de chapéu, mais compostos, mas também curiosos e loucos; mas as mãos, essas, tão longe de segurar mãos de netos.
Era o lago ainda criança. Os juncos também. Todo o parque, afinal.
Os avós desses avós passeavam sem tempo, porque o tempo estava no bolso e quem perde tempo a mexer sempre nos bolsos?
Conheciam-se bem as plantas por onde se passava, porque era assim mesmo: as horas não tinham um fim imperativo.
Os miúdos correm como sempre correram, brincam.
Só o tempo, para nós ainda um relógio de 24 horas, é que nos foge, foge, corre, para um cansaço de fim de dia, pousado no suor empoeirado duma qualquer televisão.

aquilária disse...

moriana,

tive, finalmente, oportunidade para fazer uma visita mais demorada a esta tua casa. leio, releio as tuas palavras, delicadas borboletas esvoaçando entre breves ramos. e esse olhar as cores, tão teu.

subtis, as escolhas de imagens e de outras vozes. mas a isso, como aqui disse,já nos habituaste.

abraço

moriana disse...

há memórias da nossa adolescência, quando as cores ainda eram intensas.
apetecia-me essa relva e essa corrida de mão dada :)

moriana disse...

É sempre tão gratificante a tua presença nesta casa! Sei que não é um jardim perto do mar, nem uma ínsua cristalina :), será um pulsar melancólico, talvez.

(outras palavras tenho guardadas, irão quando as sentir livres)

abraço.

Hugo Milhanas Machado disse...

Lindíssimo!

moriana disse...

and so it was :)