Fechou os olhos e emergiu na escuridão que é o silêncio da luz. Para ela, a visão era o sentido primordial na captação da permanência circundante. A sua vida tinha sido uma secessão de percepções pictóricas, em que era possível a visualização de todas as abstracções e até mesmo das realidades apreendidas através dos restantes sentidos. Via que o cheiro tem uma forma, que o som é um gesto e que o tacto tem uma cor. Na infância, ao contemplar um evónimo em que vira uma lagarta transformar-se em borboleta dissera: “Cheira a borboleta.” E o cheiro a borboleta (azul, encarnado, amarelo) existira, criado pelo desejo.
Mas agora, e esse agora projectava-se das noites passadas no presente e prolongava-se, pela apatia do vazio, nas noites futuras, não desejava dormir sobre um dia não acabado.
Maria Gabriela Llansol
4 comentários:
sentidos há primordiais e outros preteridos
:) outro
(...)
sentia a plenitude do existir inerte: a toalha, o pão na mesa, os pratos com a sopa, as cadeiras, os retratos de coisas irreais porque nenhuma delas acontecera.
MGL
:)
se tivesse tempo, procuraria no causa amante este excerto. Não tenho a certeza se é desse livro, mas seria um bom motivo por o tocar de novo.
Beijinhos
Como não tens tempo...eu digo-te: não faz parte da Causa Amante, pertence a Os Pregos na Erva
:)
bj.
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