21.5.09

os pregos na erva



Fechou os olhos e emergiu na escuridão que é o silêncio da luz. Para ela, a visão era o sentido primordial na captação da permanência circundante. A sua vida tinha sido uma secessão de percepções pictóricas, em que era possível a visualização de todas as abstracções e até mesmo das realidades apreendidas através dos restantes sentidos. Via que o cheiro tem uma forma, que o som é um gesto e que o tacto tem uma cor. Na infância, ao contemplar um evónimo em que vira uma lagarta transformar-se em borboleta dissera: “Cheira a borboleta.” E o cheiro a borboleta (azul, encarnado, amarelo) existira, criado pelo desejo.
Mas agora, e esse agora projectava-se das noites passadas no presente e prolongava-se, pela apatia do vazio, nas noites futuras, não desejava dormir sobre um dia não acabado.


Maria Gabriela Llansol

4 comentários:

petroy disse...

sentidos há primordiais e outros preteridos

:) outro

moriana disse...

(...)
sentia a plenitude do existir inerte: a toalha, o pão na mesa, os pratos com a sopa, as cadeiras, os retratos de coisas irreais porque nenhuma delas acontecera.

MGL

:)

clarinda disse...

se tivesse tempo, procuraria no causa amante este excerto. Não tenho a certeza se é desse livro, mas seria um bom motivo por o tocar de novo.

Beijinhos

moriana disse...

Como não tens tempo...eu digo-te: não faz parte da Causa Amante, pertence a Os Pregos na Erva

:)

bj.