os olhos a fixarem-se, indolentes, numa gota de água parada num pedaço de vidro vertical...na gota de água cheia de luz, numa gota inundada de luz, quase a apanhar-me, a vencer-me, resisto,
...dentro da gota de água uma luz muito estranha, azul, mas um azul muito diferente do céu de verão,
...dentro da gota de água, uma linha branca, a estrada, daqui consigo ver a estrada como nos meus mapas, uma estrada inteira, com princípio e fim, diferente da língua negra que me engoliu, daqui consigo estar em todo o tempo,
...sei de tudo num tempo que não é este que está a passar, nem o que já passou, nem o que vai passar, um tempo planificado, acessível por inteiro como as estradas dos meus mapas, sítios que só existem para me esperarem, tempos que só existem para que eu os percorra, de cabeça para baixo, suspensa pelo cinto de segurança, num momento em que posso já não existir, num momento que pode já não existir para mim
Dulce Maria Cardoso
Os meus sentimentos
6 comentários:
um tempo fora do tempo.
belos excertos, os que escolheste.com a sensibilidade que te caracteriza.
um abraço, moriana
Já tinha saudades de te ler :o)
Nekynho
Aquilária, livro intenso, este.
tantos tempos...
um abraço, amiga.
Neky, saudades dos nossos "disparates" :)
belíssimo.
não conhecia esta autora.
tomei agora contacto com a sua escrita, uma escrita muito intensa.
Com muita vontade de ler outras obras :)
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