gosto de amêndoas e folares da páscoa, gosto dos feriados que se aproximam, gosto de Abril e de cravos, gosto da frase de Chico: já murcharam tua festa pá, mas certamente esqueceram uma semente nalgum canto de jardim, gosto de roubar pés de gerânios em jardins, plantá-los e vê-los crescer, gosto de transformar os caixotinhos de morangos em prateleiras e dar-lhes diversas utilidades, gosto de ferramentas mesmo que não saiba para que servem, gosto do calor da casa quando tudo entristece lá fora, gosto de trabalhar ao lado da janela cheia de vasos de violetas, gosto dos azulejos turquesa da fachada do prédio em reconstrução, gosto de mousse de chocolate com rodelas de laranja...
2 comentários:
Também gosto da cor turquesa curativa e fresca, do inovado sabor da saúde e generosidade em que se volve o mundo reconciliado no folar depois do amanho da paleta das flores, das pedras alinhadas em cruz e no raso da capela e ao alto nos imóveis retilíneos e do éter que traz por um escaninho de mercúrio a ambiguidade do vivedouro cravo entre o motim e a devoção ao outro, mimetizada na amêndoa que casa a boca ao sussurro do amor. E, quando chover do céu, brotará jubilosamente a letícia na terra. Mas, ao cantarmos a primavera, havemos de cheirar o alecrim, e que não nos afundemos em tanto mar, tanto mar, quando navegarmos de longo na dissolvência do ascorbato ou repousarmos nas obras da delusão do cacau. É nas palavras este o lugar cativo de quem mira turvamente a pascoela julgando ser o festim da páscoa quando ainda no rescaldo de ramos de estridentes hossanas de mãos e punhos vamos, que os corações se elevarão mais tarde. Pois o cristo ainda não é morto. Hei de gostar mais fervorosamente do futuro, que agora gosto do gostar. Porque enquanto ainda não gotejam os poros do candente estio, marejam os olhos, cavilosos do enguiço das nuvens pardas. Gosto de que gostes.
e também gosto da caixa de Pandora, gosto do que lá ficou...
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