22.5.14

gosto do silêncio da chuva, gosto do silêncio da chuva e de o preencher com a voz de Matthew, gosto do silêncio da chuva e de o preencher com a voz de Matthew, de ouvir a melancolia no poema there’s nowhere left to hide, gosto do silêncio da chuva e de o preencher com a voz de Matthew, de ouvir a melancolia no poema there’s nowhere left to hide, in no one to confide, gosto do silêncio da chuva e de o preencher com a voz de Matthew, de ouvir a melancolia no poema there’s nowhere left to hide, in no one to confide, mas também gosto do murmúrio da chuva e da voz de Matthew na doçura do poema don’t fool yourself and don’t embrace the past, this life could be the last…

1 comentário:

Castro L. disse...

Ainda há pouco o sol ocidental roçava na cumeeira da serra, baralhando-se, resistente, nas vidraças da sala. Em menos de nada, porém, a luz afundou-se celeremente no escuro, impedindo que o olhar alcançasse uma anterior linha de horizonte. Restou-me a fila de candeeiros no sopé desta cidade que muda bruscamente de céus. Depois, a inércia no lençol branco de dormir. Repudiando a noite, saltei da cama - já é outra vez dia, apesar de o sol catrapiscar, anunciando as intermitências da vida a rimar com ‘For no one’, na voz de Rickie Lee Jones:

Your day breaks, your mind aches
You find that all the words of kindness linger on
When she no longer needs you

She wakes up, she makes up
She takes her time and doesn't feel she has to hurry
She no longer needs you

And in her eyes you see nothing
No sign of love behind the tears
Cried for no one
A love that should have lasted years

É desta maneira que agora a meteorologia declara a iminência asfixiada da chuva, o grito de outrora que, de calado perpetuamente, desapareceu, quando os sentidos colapsaram no tempo, numa habituação que, acalentando o calor mnésico do sussurro de um segredo, fez entorpecer numa letargia um som que era sedução e simulação e, substituído, agora é rejeição. Gosto da arquitetura do amor, de rendilhados e contornos e variações que enganam, na ilusão nostálgica de um passado que nunca aconteceu, mas era mágico, porque, precisamente, estava sempre disponível como promessa. No gotejar da gárgula julgo ouvir também na voz inventada silenciosa um ‘eu espero’, que amanhã é outro dia. Desligo o rádio da Radar e volto à Antena 2, para recuperar a compostura grave para a jorna de hoje. O Instituto Português do Mar e da Atmosfera acaba de retificar a previsão de lágrimas para o dia de hoje, com períodos de céu muito nublado e vento fraco, ou seja, de alternância entre a luz e as nuvens lamechas que foram empurradas certamente pelo sopro amparado e previdente de deus. Desligo-me da nostalgia de era idas e começo a redigir a carta comercial que já devia estar acabada há mais de uma hora, que, senão, o clima muda…